A longa luta pelos direitos civis nos EUA: O movimento negro a partir da década de 1950 e a guerra pacifista de Luter King
O Sul dos Estados Unidos, no período posterior a segunda guerra mundial, sofreu um processo de definitiva mecanização da produção de algodão, resultando no abandono das zonas rurais por milhares de trabalhadores agrícolas afro-americanos e, conseqüente, urbanização desses indivíduos, que migraram do sul para o norte e da zona rural do sul para a urbana. Além disso, a falta de mão-de-obra, civil e militar, durante Segunda Guerra provocou um movimento similar ao da primeira, já que, nesse período, os negros foram empregados com mais facilidade.
Na década de 1950 e 1960 ocorreram diversas iniciativas de luta por parte dos negros para a constituição de direitos civis igualitários. O início desse movimento tem como pauta a dessegregação das escolas públicas, que em 1954 contou com o apoio do Supremo Tribunal dos Estados. Os brancos sulistas foram contra a medida (matriculando seus filho em escolas particulares, por exemplo) e os do norte também. Esses últimos manifestaram seu posicionamento contrário e protestaram com protesto e até com violência[1].
A luta contra o sistema de segregação racial contava com um novo estímulo. Os jovens negros realizavam manifestações nas Universidades negras do Sul, fundadas por igrejas e comandadas por reitores negros, demonstrando as inquietações da juventude. “O semestre da primavera de 1960 viu cada uma das sessenta e tantas universidades de negros, do Sul, envolvidas pela confusão e desordem que acompanharam a participação dos estudantes nas demonstrações sobre direitos civis”[2]. Foram esses jovens que tomaram a frente do movimento, conforme Proctor, diante da inutilidade das discussões, reuniões e oratória dos adultos, que estavam comprometidos com as suas obrigações diárias de trabalho e sustento. “O negro adulto, desamparadamente, estava na dependência de aprovação por parte da estrutura de força dos brancos. A maioria das famílias podia não ter recursos para perder um simples cheque de pagamento e, embora ninguém desejasse verbalizar essa condição inexorável, isto era, contudo, um eloqüente murmúrio”.[3]
Os jovens negros contaram com o apoio dos jovens brancos liberais, principalmente por grupos de mulheres. Eles eram reconhecidos pela Liga das Mulheres Votantes, Associação Cristã de Moças e aos grupos unidos das mulheres, representando as Igrejas Católicas, Protestante e Judaica. A maior parte desses apoiadores, como coloca Proctor, via a emancipação negra como algo inevitável na vida americana, alguma coisa que acontecesse sem muito esforço direto de sua parte. Esses brancos eram acusados muitas vezes de “amantes dos negros”, ao mesmo tempo em que eram vistos pelo militar intelectual negro como “subversor paternalista da integridade negra, joguete do liberalismo branco para estancar a maré de cólera negra”[4]
As lutas de independência da África tiveram um peso importante para a mobilização da juventude. O triunfo das lutas africanas despertou um sentimento de vergonha por sua passividade diante da segregação e motivaram sua admiração por líderes e assimilação com o continente. A solidariedade com o povo africano já havia sido demonstrada anteriormente, quando apoiaram a Etiópia contra a invasão da Etiópia pela Itália durante a Segunda Guerra Mundial (Pacheco, p.54).
Outro âmbito da luta que obteve sucesso foi pela dessegregação dos transportes públicos. A manifestação teve inicio em dezembro de 19555, quando a costureira negra Rosa Parks recusou-se a dar lugar no ônibus para um branco, em Montgomery, no Alabama. O resultado da ação foi a sua prisão. Após esse episódio, os negros da cidade, com o apoio da igreja decidiram realizar um boicote contra aos ônibus da cidade até que tivesse fim esse tipo de segregação. O boicote durou um ano e quase levou a empresa a falência, confluindo para a conquista desse direito junto ao Supremo Tribunal dos Estados Unidos. A partir dessa ação ganha visibilidade nacional um dos lideres do movimento, Martin Luther King, pacifista atuante na luta pelos direitos civis que pregava a não violência para as conquistas dos negros. Sob sua influência ganham amplitude diversos protestos não violentos em prol dos direitos civis em todo o país (por exemplo, o caso dos negros universitários de Greensboro, na Carolina do Norte, que forçaram um restaurante a lhe servirem refeições, de forma a sentar e rezar o pai-nosso como maneira de protesto). Surgiram outros movimentos não violentos no país, mesmo que os partidários do movimento sofressem violência[5].
Em 2 de julho 1964 o congresso norte americano aprovou a Lei dos Direitos Civis, a qual estabelecia o fim da discriminação racial nas acomodações públicas, no emprego, na educação e no registro de eleitores. A confirmação da lei passou por longos debates no Congresso, tendo o Senado que determinar a votação imediata sobre o assunto após 75 dias de debates. Através dessa Lei, o processo de registro de eleitores passava a ser igual a todos os requerentes, tendo direito a voto americanos alfabetizados sujeitos a uma prova escrita e que tivessem até o sexto grau de alfabetização. A discriminação racial e religiosa foi proibida em lugares de acomodação pública, como restaurantes, postos de gasolina, lojas, teatros, quadras esportivas, hotéis e outros alojamentos. As escolas com programas de dessegregação deveriam receber assistência técnica e financeira, entretanto a lei não ordenava o transporte de alunos de um distrito escolar a outro. Os empregadores – exceto alguns grupos –, agências de empregos e sindicatos foram proibidos de cometer discriminação referente à raça, cor, religião, sexo ou origem nacional. Além disso, foram criadas a comissão de Oportunidade Igual de Empregos, com o objetivo de eliminar empregos ilegais, e o Serviço de relações da Comunidade, para ajudar as comunidades com problemas relacionados a dessegregação[6].
O movimento negro americano apresentava divergências em relação às formas de luta, porém, quanto à guerra do Vietnã – assunto central nos EUA da época –, apresentavam a mesma opinião contrária à intervenção americana no país asiático. O fato dos negros estarem nas linhas de frente nos campos de batalha e do belicismo ser identificado com os setores brancos mais conservadores[7].
O governo federal interveio por vezes para terminar com discriminação. O presidente Lyndon B. Jonshon garantiu o direito de voto aos negros do sul, instituindo a Lei do Direito de Votar, em 1965, que resultou em uma necessária supervisão das eleições por parte do governo federal. O apoio oficial à causa dos negros norte-americanos foi fundamental, porém os principais protagonistas e atuantes nesse movimento foram os próprios negros.
FONTE:
http://historiaediscussao.wordpress.com/2009/12/01/a-longa-luta-pelos-direitos-civis-nos-eua-o-movimento-negro-a-partir-da-decada-de-1950-e-a-guerra-pacifista-de-luter-king/
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