PROFESSORA ANDRÉA

sexta-feira, 5 de junho de 2015

O Analfabetismo político como fator elementar para a construção de uma realidade sociopolítica desequilibrada

Publicado por Edgar Herzmann

O analfabetismo político representa uma estagnação social, uma zona de conforto cega, desprovida de consciência política, evidenciada pelo conhecido discurso pronunciado pelos equivocados do tipo: “odeio política”, “política não se discute” e materializada em atitudes como desligar o rádio na “Hora do Brasil” ou o televisor durante o horário da propaganda eleitoral obrigatória.

Atitudes insanas, comportamento sombrio derivado da lavagem cerebral a que somos submetidos desde o nascimento até os últimos dias da existência física (Freud). Somos vítimas da cultura do “deixa pra lá”, “está bom assim”, “depois melhora”. Aprendemos desde cedo que mais vale assistir um programa televisivo improdutivo, que não acarretará nada além de algumas risadas, ou algum programa de esporte violento, do que ler aquela matéria no jornal de hoje que trata da crise política do país ou do mundo, ou assistir aquela entrevista com aquele candidato à presidência da República, pois rotulamos tal comportamento como uma atitude que aporrinha as nossas vidas, esquecendo-nos que o que causa, efetivamente e verdadeiramente, o mal estar social e cultural, é exatamente o desinteresse pelo que acontece no mundo político.

Não se pode negligenciar o apreço obrigatório pela situação política do país em que vivemos, tendo em vista que não há como evitar a política quando se vive em sociedade. Afinal de contas, conforme assentado por Aristóteles (Política): “A natureza do indivíduo humano só é realizável pela comunidade social e política. O indivíduo isolado torna-se insociável e apolítico, comportando-se ‘como um deus ou uma besta’”. 

Deste modo, o ser apolítico, isto é, aquele que repudia a política e não dá a mínima para o que acontece no cenário sociopolítico do país, do estado ou mesmo do município em que reside, se torna um não-cidadão. Um nada social; Um instrumento fácil a ser moldado de acordo com os padrões e dinâmicas políticas impostas; Um servo dos protagonistas políticos de sempre; Um indivíduo sem desejo, sem opinião, sem direitos.

Afinal de contas, conforme exaustivamente destacado por Aristóteles, “cidadão é, verdadeiramente, o que participa na vida política, através de funções deliberativas”, funções nas quais, pode-se atrelar o direito ao voto, o direito à manifestação, ao debate, à inserção política com participações efetivas, etc.

Assim, estabelecido esse distanciamento entre política e indivíduo, a democracia enfraquece, perde força, forma-se uma encenação democrática, uma faz de contas do exercício dos direitos políticos, institui um estado vegetativo do ser em termos sociais participativos, elimina a essência fundamental existente na formação da vida em sociedade, que é a política.

Neste sentido, em que pese o fator estimulante para o desinteresse social pela política ser a corrupção e o descaso do poder político, gerando insatisfação e rebeldia, a reação reivindicatória do cidadão diante de tais circunstâncias deveria ser o oposto da realidade evidenciada na maioria, isto é, deixar de acompanhar, ler, interagir no debate político, não ajuda a mudar a situação de uma nação em termos políticos, mas sim, ajuda somente a afundar e desequilibrar a estrutura democrática social em termos de direitos e deveres políticos.
Em contrapartida, o interesse pela política de modo sério e contundente, levantando a crítica raciocinada frente aos debates, notícias e propagandas políticas, proporciona ao cidadão maiores subsídios para, efetivamente, modificar a realidade sociopolítica contemporânea.

Portanto, o analfabeto político não deve se orgulhar e estufar o peito dizendo que odeia a política, e sim sentir vergonha da sua ignorância política, ignorância na qual nasce a prostituta, o menor abandonado, a violência banalizada e o pior de todos os bandidos: o político vigarista, o pilantra, o corrupto, e lacaio (Bertolt Brecht) dos exploradores do povo.


Um comentário:

  1. Um excelente texto para um momento muito oportuno!

    Oidê Carvalho de Moura - professor de História e Filosofia CEM Florêncio Aires

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