Publicado por Edgar Herzmann
O analfabetismo político representa uma estagnação social, uma zona
de conforto cega, desprovida de consciência política, evidenciada pelo
conhecido discurso pronunciado pelos equivocados do tipo: “odeio
política”, “política não se discute” e materializada em atitudes como
desligar o rádio na “Hora do Brasil” ou o televisor durante o horário da
propaganda eleitoral obrigatória.
Atitudes insanas,
comportamento sombrio derivado da lavagem cerebral a que somos
submetidos desde o nascimento até os últimos dias da existência física
(Freud). Somos vítimas da cultura do “deixa pra lá”, “está bom assim”,
“depois melhora”. Aprendemos desde cedo que mais vale assistir um
programa televisivo improdutivo, que não acarretará nada além de algumas
risadas, ou algum programa de esporte violento, do que ler aquela
matéria no jornal de hoje que trata da crise política do país ou do
mundo, ou assistir aquela entrevista com aquele candidato à presidência
da República, pois rotulamos tal comportamento como uma atitude que
aporrinha as nossas vidas, esquecendo-nos que o que causa, efetivamente e
verdadeiramente, o mal estar social e cultural, é exatamente o
desinteresse pelo que acontece no mundo político.
Não se pode
negligenciar o apreço obrigatório pela situação política do país em que
vivemos, tendo em vista que não há como evitar a política quando se vive
em sociedade. Afinal de contas, conforme assentado por Aristóteles
(Política): “A natureza do indivíduo humano só é realizável pela
comunidade social e política. O indivíduo isolado torna-se insociável e
apolítico, comportando-se ‘como um deus ou uma besta’”.
Deste
modo, o ser apolítico, isto é, aquele que repudia a política e não dá a
mínima para o que acontece no cenário sociopolítico do país, do estado
ou mesmo do município em que reside, se torna um não-cidadão. Um
nada social; Um instrumento fácil a ser moldado de acordo com os padrões
e dinâmicas políticas impostas; Um servo dos protagonistas políticos de
sempre; Um indivíduo sem desejo, sem opinião, sem direitos.
Afinal
de contas, conforme exaustivamente destacado por Aristóteles, “cidadão
é, verdadeiramente, o que participa na vida política, através de funções
deliberativas”, funções nas quais, pode-se atrelar o direito ao voto, o
direito à manifestação, ao debate, à inserção política com
participações efetivas, etc.
Assim, estabelecido esse
distanciamento entre política e indivíduo, a democracia enfraquece,
perde força, forma-se uma encenação democrática, uma faz de contas do
exercício dos direitos políticos, institui um estado vegetativo do ser
em termos sociais participativos, elimina a essência fundamental
existente na formação da vida em sociedade, que é a política.
Neste
sentido, em que pese o fator estimulante para o desinteresse social
pela política ser a corrupção e o descaso do poder político, gerando
insatisfação e rebeldia, a reação reivindicatória do cidadão diante de
tais circunstâncias deveria ser o oposto da realidade evidenciada na
maioria, isto é, deixar de acompanhar, ler, interagir no debate
político, não ajuda a mudar a situação de uma nação em termos políticos,
mas sim, ajuda somente a afundar e desequilibrar a estrutura
democrática social em termos de direitos e deveres políticos.
Em
contrapartida, o interesse pela política de modo sério e contundente,
levantando a crítica raciocinada frente aos debates, notícias e
propagandas políticas, proporciona ao cidadão maiores subsídios para,
efetivamente, modificar a realidade sociopolítica contemporânea.
Portanto,
o analfabeto político não deve se orgulhar e estufar o peito dizendo
que odeia a política, e sim sentir vergonha da sua ignorância política,
ignorância na qual nasce a prostituta, o menor abandonado, a violência
banalizada e o pior de todos os bandidos: o político vigarista, o
pilantra, o corrupto, e lacaio (Bertolt Brecht) dos exploradores do
povo.
Um excelente texto para um momento muito oportuno!
ResponderExcluirOidê Carvalho de Moura - professor de História e Filosofia CEM Florêncio Aires