"Quanto mais me elevo, menor eu pareço aos olhos de quem não sabe voar." (Friedrich Nietzsche)
domingo, 13 de março de 2016
sábado, 12 de março de 2016
As semelhanças entre a Operação Bandeirantes e a Lava Jato. Por Carlos Fernandes
No artigo em que o jornalista Jânio de Freitas fez provavelmente a
mais óbvia, racional e lógica analogia da operação Lava Jato
comparando-a com a vergonhosa Operação Bandeirantes lançada oficialmente
em 1969 pelos militares, até os personagens se encaixam como uma luva.
O festival de ilegalidades processuais realizadas pela OBAN – se é
que havia algo digno de ser chamado de processo nas sessões de torturas –
sobretudo quando sob ordens do seu mais famoso comandante, o carrasco
Carlos Alberto Brilhante Ustra, não difere muito dos métodos utilizados
atualmente pelo juiz Sérgio Moro.
As motivações e os interesses envolvidos continuam exatamente os
mesmos: a perseguição e prisão dos militantes de esquerda em prol da
viabilização de um projeto de poder classista idealizado pela extrema
direita e sustentado pelas grandes empresas de comunicação do Brasil.
Neste item em particular, basta constatar que, além de grandes
multinacionais, um dos financiadores privados da Operação Bandeirantes
nas suas incursões ilegais e antidemocráticas era ninguém menos do que a
própria Folha de S.Paulo.
O sequestro do ex-presidente Lula e sua prisão forçada durante horas
no aeroporto de Congonhas na capital paulista, expôs o velho “modus
operandi” da OBAN em plena democracia de 2016.
As informações dos abusos realizados no Instituto Lula na forma de
vandalismos, arrombamentos, invasão de e-mails não amparados no mandado
de busca e apreensão e trocas ilegais de senhas só não são mais
arbitrárias do que a escuta telefônica encontrada no apartamento de Lula
após a saída dos policiais federais.
Nesse ponto chegamos a mais um personagem central da “Operação
Bandeirantes” de Moro. Não é a primeira vez que escutas ilegais são
encontradas ao arrepio da lei desde que o tribunal de exceção de
Curitiba vem pautando a agenda política e econômica deste país.
O delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula, que durante toda
a campanha presidencial de 2014 nos deu provas mais do que suficientes
da parcialidade procedimental e aparelhamemto político e ideológico da
PF, é exatamente o mesmo que foi nominalmente denunciado na investigação
que apurava a escuta clandestina encontrada na cela do doleiro Alberto
Youssef em 2015.
Segunda a apuração independente realizada pelo delegado Dalmey
Fernando Werlang, os responsáveis pela operação Lava Jato “haviam
utilizado provas ilícitas”, notadamente a partir do grampo instalado na
cela de Youssef.
Já o delegado Mário Fanton enviado à capital paranaense para realizar
uma sindicância sobre o grampo, denunciou pressão dos colegas para
“abafar o caso”. No seu relatório, Fanton denunciou explicitamente o
nosso ilustre Igor Romário de Paula.
Esses abusos foram reportados diretamente à CPI da Petrobrás e ao
próprio ministério da Justiça. Como de praxe, tanto a CPI quanto o então
ministro da justiça, José Eduardo Cardozo, absolutamente nada fizeram. O
caso da escuta clandestina na cela de Youssef até hoje não foi
esclarecido, as provas obtidas ilegalmente continuam válidas e ninguém
foi punido.
Sendo assim, livre de qualquer pressão do ministério da justiça, da
Direção Geral da PF e do juiz Sérgio Moro, imagino qual não foi a
satisfação pessoal do delegado Igor Romário de Paula, que não enxergava
problema algum em exaltar Aécio e criticar Dilma e o PT vazando
inclusive informações sigilosas nas redes sociais, ao anunciar que Lula
estava prestando depoimento.
Tudo isso já seria material abundante para recriar os horrores
vividos na época da ditadura militar, mas em se tratando de aberrações
jurídicas e violações dos direitos civis, o nosso sistema judiciário é
de uma fertilidade ilimitada.
Eis que “correndo por fora” surge o mais novo capataz da oligarquia
político-empresarial-midiática brasileira. O promotor Cássio Conserino
deve entrar para a história como o autor do mais ridículo pedido de
prisão preventiva expedida por um membro do Ministério Público. E olha
que existem muitos.
O juiz Sérgio Moro, os procuradores federais Deltan Dallagnol e
Carlos Fernando dos Santos Lima, o delegado Igor Romário de Paula e o
procurador do MP-SP Cássio Conserino são personagens caricatos da
outrora Operação Bandeirantes.
Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos mais cruéis torturadores que
esse país já conheceu, se nesse momento pudesse vislumbrar o que estão
fazendo, ficaria, com certeza, orgulhoso da continuidade de sua “obra”.
Depois que a turba insana passa, resta a vergonha para a ignorância e para os ignorantes
Ameaças, discurso de ódio, palavrões e xingamentos não são sinônimos de coragem ou inteligência.
As redes sociais deram voz e munição
para muita coisa boa, assim como para a ignorância e os ignorantes. O
sujeito se acha no direito de escrever sandices. Aquilo que se
camuflava na vida privada, ganha força no espaço público virtual,
pela comodidade de estar em sua casa, protegido pela tela do computador
ou do celular, a salvo do enfrentamento cara-a-cara. O fato fica mais
grave porque as redes sociais proporcionam o encontro destes
intolerantes com seus pares. E assim a selvageria se multiplica.
Essa polarização política no país está
servindo para algumas coisas, uma delas é descobrirmos quem é quem. O
machista, o fascista, o racista, o homofóbico, etc., ganham até cadeiras
no parlamento. Mas não se enganem: estes não são a maioria.
A história já nos deu exemplos de que
quando a violência e a crueldade se institucionalizam, a tentativa de
desumanizar a humanidade se eleva a uma condição irracional, acontece
que a essência humana, mesmo sendo produto da história, não se destrói…
e vem mostrando que nos mais tenebrosos tempos tem a capacidade de
sobreviver e de dar a volta por cima.
Depois que a turba insana passa, resta a vergonha para a ignorância e para os ignorantes.
Se você já foi pego proferindo ilações,
xingamentos ou com a vontade de exterminar um grupo ou indivíduo, pare
um pouco, respire fundo e pergunte o porquê.
Não pensem que o nazismo, por exemplo,
fez o que fez de maneira espontânea. Ao contrário, foi uma propaganda
bem articulada, que escolheu como inimigo um povo e algumas ideologias. O
método foi tão eficiente que chegou ao ponto de levar uma nação a
acreditar e naturalizar a violência. Globo e as demais emissoras, com
suas afiliadas, não são diferentes.
E você? Já se perguntou alguma vez o que e
quem está por trás das manifestações golpistas? Quais os interesses?
Por que atacar só o PT? Por que atacar só as lideranças que lutam pela
igualdade e liberdade?
A resposta recorrente para muitos é a
corrupção, uma resposta que acompanha a narrativa dos meios de
comunicação que há anos na história do Brasil vêm fazendo alguns
estragos.
No Brasil, nossa velha elite e a mídia tradicional só enxergam a corrupção onde interessa. Às vezes enxergam até onde não tem.
Diga-se de passagem, a República brasileira foi alicerçada sobre os pilares de corrupção por essa mesma elite vergonhosa.
Somente em governos populares e em períodos democráticos é que se enfrenta essa assimetria.
Acontece que combater a corrupção é
combater justamente a elite que não existe sem esse componente. Por
estarem ameaçados, constantemente tratam de travar o combate e buscam
transformar aquele que combate a corrupção em corrupto e o corrupto em
santo.
Aécio, FHC, Cunha, Alckmin, Globo, RBS e
tantos outros, todos envolvidos em corrupção, e nem por isso são matéria
de jornal, capa de revistas e muito menos têm a presença constante nos
noticiários televisivos. Até porque muitos são os donos da mídia.
Essa turma e seus antecessores, sejam
eles próximos por parentesco, por sociedades ou por ideologia, nunca
aceitaram ninguém além deles mesmos para governar o país.
A missão destes sempre foi se beneficiar
do Estado, enriquecer ilicitamente e fazer do Brasil um quintal
especulativo para os grandes capitais internacionais. Transformaram-nos
por muito tempo numa das nações mais desiguais do mundo e agora querem
voltar.
Se investigarmos a história, entenderemos
que os mesmos levaram ao suicídio Getúlio Vargas e fizeram um golpe
civil-militar depondo Jango e levando o país a uma prolongada ditadura.
Registros históricos denunciam tais
artimanhas da direita reacionária brasileira. A carta testamento de
Getúlio Vargas e o discurso memorável de João Goulart no comício de data
“coincidente” – 13 de março de 1964 – na Central do Brasil, no Rio de
Janeiro, dão provas disso:
“…Mais uma vez as forças e os
interesses contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre mim. Não
me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito
de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que
eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e
principalmente os humildes…” Getúlio Vargas
“…Aqui estão os meus amigos
trabalhadores, vencendo uma campanha de terror ideológico e sabotagem,
cuidadosamente organizada para impedir ou perturbar a realização deste
memorável encontro entre o povo e o seu presidente, na presença das mais
significativas organizações operárias e lideranças populares deste
país. Chegou-se a proclamar, até, que esta concentração seria um ato
atentatório ao regime democrático, como se no Brasil a reação ainda
fosse a dona da democracia, e a proprietária das praças e das ruas.
Desgraçada a democracia se tiver que ser defendida por tais democratas.
Democracia para esses democratas não é
o regime da liberdade de reunião para o povo: o que eles querem é uma
democracia de povo emudecido, amordaçado nos seus anseios e sufocado nas
suas reivindicações.
A democracia que eles desejam
impingir-nos é a democracia antipovo, do anti-sindicato, da
anti-reforma, ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos
grupos a que eles servem ou representam.
A democracia que eles querem é a
democracia para liquidar com a Petrobras; é a democracia dos monopólios
privados, nacionais e internacionais, é a democracia que luta contra os
governos populares e que levou Getúlio Vargas ao supremo sacrifício….” João Goulart
O ódio insano nas redes sociais tem muitas explicações e a obviedade de uma delas é sem dúvida a manipulação midiática.
A diferença de outros momentos para este é
que os indivíduos que defendem a cidadania, os direitos humanos e uma
sociedade mais justa são milhares, chegamos ao governo e mostramos que é
possível fazer para todos e não somente para uma meia dúzia. Agora é
colocar o bloco na rua e defender conquistas, a democracia e barrar o
golpe. Nossa arma será sempre a inteligência.
*Carlos Eduardo de Souza é
formado em História pela UDESC e Especialista em Gestão Estratégica de
Políticas Públicas pela UNICAMP.
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