Ameaças, discurso de ódio, palavrões e xingamentos não são sinônimos de coragem ou inteligência.
As redes sociais deram voz e munição
para muita coisa boa, assim como para a ignorância e os ignorantes. O
sujeito se acha no direito de escrever sandices. Aquilo que se
camuflava na vida privada, ganha força no espaço público virtual,
pela comodidade de estar em sua casa, protegido pela tela do computador
ou do celular, a salvo do enfrentamento cara-a-cara. O fato fica mais
grave porque as redes sociais proporcionam o encontro destes
intolerantes com seus pares. E assim a selvageria se multiplica.
Essa polarização política no país está
servindo para algumas coisas, uma delas é descobrirmos quem é quem. O
machista, o fascista, o racista, o homofóbico, etc., ganham até cadeiras
no parlamento. Mas não se enganem: estes não são a maioria.
A história já nos deu exemplos de que
quando a violência e a crueldade se institucionalizam, a tentativa de
desumanizar a humanidade se eleva a uma condição irracional, acontece
que a essência humana, mesmo sendo produto da história, não se destrói…
e vem mostrando que nos mais tenebrosos tempos tem a capacidade de
sobreviver e de dar a volta por cima.
Depois que a turba insana passa, resta a vergonha para a ignorância e para os ignorantes.
Se você já foi pego proferindo ilações,
xingamentos ou com a vontade de exterminar um grupo ou indivíduo, pare
um pouco, respire fundo e pergunte o porquê.
Não pensem que o nazismo, por exemplo,
fez o que fez de maneira espontânea. Ao contrário, foi uma propaganda
bem articulada, que escolheu como inimigo um povo e algumas ideologias. O
método foi tão eficiente que chegou ao ponto de levar uma nação a
acreditar e naturalizar a violência. Globo e as demais emissoras, com
suas afiliadas, não são diferentes.
E você? Já se perguntou alguma vez o que e
quem está por trás das manifestações golpistas? Quais os interesses?
Por que atacar só o PT? Por que atacar só as lideranças que lutam pela
igualdade e liberdade?
A resposta recorrente para muitos é a
corrupção, uma resposta que acompanha a narrativa dos meios de
comunicação que há anos na história do Brasil vêm fazendo alguns
estragos.
No Brasil, nossa velha elite e a mídia tradicional só enxergam a corrupção onde interessa. Às vezes enxergam até onde não tem.
Diga-se de passagem, a República brasileira foi alicerçada sobre os pilares de corrupção por essa mesma elite vergonhosa.
Somente em governos populares e em períodos democráticos é que se enfrenta essa assimetria.
Acontece que combater a corrupção é
combater justamente a elite que não existe sem esse componente. Por
estarem ameaçados, constantemente tratam de travar o combate e buscam
transformar aquele que combate a corrupção em corrupto e o corrupto em
santo.
Aécio, FHC, Cunha, Alckmin, Globo, RBS e
tantos outros, todos envolvidos em corrupção, e nem por isso são matéria
de jornal, capa de revistas e muito menos têm a presença constante nos
noticiários televisivos. Até porque muitos são os donos da mídia.
Essa turma e seus antecessores, sejam
eles próximos por parentesco, por sociedades ou por ideologia, nunca
aceitaram ninguém além deles mesmos para governar o país.
A missão destes sempre foi se beneficiar
do Estado, enriquecer ilicitamente e fazer do Brasil um quintal
especulativo para os grandes capitais internacionais. Transformaram-nos
por muito tempo numa das nações mais desiguais do mundo e agora querem
voltar.
Se investigarmos a história, entenderemos
que os mesmos levaram ao suicídio Getúlio Vargas e fizeram um golpe
civil-militar depondo Jango e levando o país a uma prolongada ditadura.
Registros históricos denunciam tais
artimanhas da direita reacionária brasileira. A carta testamento de
Getúlio Vargas e o discurso memorável de João Goulart no comício de data
“coincidente” – 13 de março de 1964 – na Central do Brasil, no Rio de
Janeiro, dão provas disso:
“…Mais uma vez as forças e os
interesses contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre mim. Não
me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito
de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que
eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e
principalmente os humildes…” Getúlio Vargas
“…Aqui estão os meus amigos
trabalhadores, vencendo uma campanha de terror ideológico e sabotagem,
cuidadosamente organizada para impedir ou perturbar a realização deste
memorável encontro entre o povo e o seu presidente, na presença das mais
significativas organizações operárias e lideranças populares deste
país. Chegou-se a proclamar, até, que esta concentração seria um ato
atentatório ao regime democrático, como se no Brasil a reação ainda
fosse a dona da democracia, e a proprietária das praças e das ruas.
Desgraçada a democracia se tiver que ser defendida por tais democratas.
Democracia para esses democratas não é
o regime da liberdade de reunião para o povo: o que eles querem é uma
democracia de povo emudecido, amordaçado nos seus anseios e sufocado nas
suas reivindicações.
A democracia que eles desejam
impingir-nos é a democracia antipovo, do anti-sindicato, da
anti-reforma, ou seja, aquela que melhor atende aos interesses dos
grupos a que eles servem ou representam.
A democracia que eles querem é a
democracia para liquidar com a Petrobras; é a democracia dos monopólios
privados, nacionais e internacionais, é a democracia que luta contra os
governos populares e que levou Getúlio Vargas ao supremo sacrifício….” João Goulart
O ódio insano nas redes sociais tem muitas explicações e a obviedade de uma delas é sem dúvida a manipulação midiática.
A diferença de outros momentos para este é
que os indivíduos que defendem a cidadania, os direitos humanos e uma
sociedade mais justa são milhares, chegamos ao governo e mostramos que é
possível fazer para todos e não somente para uma meia dúzia. Agora é
colocar o bloco na rua e defender conquistas, a democracia e barrar o
golpe. Nossa arma será sempre a inteligência.
*Carlos Eduardo de Souza é
formado em História pela UDESC e Especialista em Gestão Estratégica de
Políticas Públicas pela UNICAMP.
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