BURITI E BABAÇU
Da palha do babaçu e do buriti, duas espécies de palmeiras comuns na
região Norte do Brasil, surgem esteiras, chapéus, cestos e uma
infinidade de produtos utilizados há muito tempo pelos indígenas e pelos
sertanejos tocantinenses, mas que somente agora vem ganhando status de
artesanato decorativo.
Das fibras podem surgir as mais variadas peças. Como coadjuvantes de
outras matérias-primas servem para amarrar peças em capim dourado ou
surgem como detalhes de produtos em madeira. Largamente utilizadas pelos
povos indígenas e difundidas em todo o Estado, as fibras demonstram
toda sua versatilidade de acordo com os costumes de cada região.
O buritizeiro é
uma palmeira amazônica facilmente encontrada no norte do Maranhão. De
tronco fino e alongado, copa pequena e circular, a árvore pode alcançar
os 35 metros de altura. Resistente, a palmeira se adapta melhor em
terrenos alagados à beira de rios e igarapés.
Também chamado de
miriti, o buriti é a fruta do buritizeiro. Semelhante a um coquinho, ele
possui uma casca dura, de coloração vinho-avermelhado e coberta por
desenhos que lembram escamas. A polpa do buriti é amarelada e geralmente
é usada na culinária como matéria-prima para doces e bombons.
Além
de utilizado comercialmente no artesanato e na culinária, o buritizeiro é
fundamental para os ribeirinhos em seu dia-a-dia. As folhas da palmeira
são usadas para fazer corda ou servir de teto de casas mais humildes.
Os troncos podem ser utilizados na feitura de trapiches e estivas ou
perfurados para que seja extraída uma seiva açucarada que, depois de
tratada, pode servir de adoçante.
Coco babaçu gera renda e transforma vidas no Tocantins
Mulheres participam de projeto para criar artesanato diferenciado.
Produtos já foram expostos em feiras nacionais e internacionais.
Aline diz que agora tem uma visão mais elaborada do artesanato do babaçu
(Foto: Teotonha Gomes/Arquivo Pessoal)
Inspirados pelo babaçu, artesãos dos municípios do Bico do Papagaio,
extremo norte do Tocantins, vem ultrapassando os limites territoriais,
fortalecendo o artesanato e preservando a identidade cultural da região,
conhecida pelos ricos recursos naturais e pelos conflitos sociais nas
décadas de 70, 80 e 90, entre fazendeiros e posseiros pelo controle de
terra.
Coco babaçu se tranforma em acessórios femininos
(Foto: Fabio Del Re/Sebrae Tocantins)
Através do Projeto de Artesanato da Amazônia Legal Tocantinense (Artenorte), realizado pelo Sebrae
e parceiros, iniciado em 2006, cerca de 90 artesãos receberam
capacitações relacionadas à gestão de negócios, melhoria ao acesso à
inovação tecnológica e ampliação de acesso a mercados.
Essas ações foram realizadas unindo a inclusão social e a geração de
trabalho e renda à preservação ambiental. Em um primeiro momento, foram
contemplados os municípios de Aguiarnópolis, Tocantinópolis, Nazaré, Luzinópolis, São Bento e Araguatins
Almofada com detalhes de coco babaçu produzidas
no Tocantins (Foto: Fabio Del Re/Sebrae Tocantins)
Das capacitações realizadas com designers, arquitetos e fotógrafos, a
comunidade de artesãos e quebradeiras de coco transformou o babaçu e o
carvão em mais de 100 produtos como toalhas de mesa, almofadas,
acessórios de moda (colares, bolsas) e utensílios domésticos
(luminárias, velas, arranjos florais), e lançaram a “Coleção Babaçu”,
que ganhou os grandes centros e mudou a realidade de muitas famílias
tocantinenses.
A diretora técnica do Sebrae Tocantins, Mila Jaber, diz que após a
“Coleção Babaçu” em 2010, foi iniciado um novo ciclo de trabalhos
através do projeto “Artesanato Sustentável Babaçu Brasil”, o que
expandiu o atendimento para mais sete municípios, “onde foi oportunizado
a inclusão de aproximadamente 60 novos artesãos da região do Bico do
Papagaio”.
Artesãs durante oficina ministrada pelo Sebrae
(Foto: Divulgação/Sebrae Tocantins)
Hoje, cerca de 150 mulheres artesãs, empreendedoras individuais e
potenciais empreendedoras ligadas à atividade artesanal estão sendo
atendidas pelo Sebrae na região norte do Tocantins, como é o caso de
Doemy Araújo, 49 anos, de Tocantinópolis.
Há seis anos trabalhando com o babaçu e o carvão ativado do babaçu,
Doemy foi uma das finalistas do prêmio Top 100. “O artesanato é a única
coisa que sei fazer, quero continuar fazendo e morrer fazendo”, diz em
tom alegre.
Aline Cunha, 33 anos, moradora de Araguatins também deixou o trabalho
do lar para investir no artesanato. Hoje, ela é tesoureira da Associação
dos Artesãos de Araguaçu - Babaçu Arte. “Até então, olhávamos para a
palmeira e enxergavámos só o azeite e o carvão. Agora temos a visão do
artesanato mais elaborado, com design. Esse foi o diferencial”,
afirma. Aline ainda afirma que o trabalho com o babaçu transformou as
mulheres envolvidas. “Não só na questão financeira, houve um
desenvolvimento pessoal, as pessoas não são mais as mesmas.”
Artesanato feito com o coco babaçu
(Foto: Fabio Del Re/Sebrae Tocantins)
O trabalho tem dado tão certo que outros produtos devem ser lançados no
segundo semestre. Está em fase de criação a coleção “Babaçu Brasil”,
que visa valorizar a marca que representa o artesanato da região do Bico
do Papagaio.
Dificuldades
Embora os produtos já tenham reconhecimento e mercado, ainda falta
estrutura para que os artesãos trabalhem. Doemy conta que em
Tocantinópolis, não há uma sede para os artesãos trabalharem. “Ainda
temos muita dificuldade, contamos apenas com o apoio do Sebrae. Não
temos casa, sempre que surge um trabalho nos dividimos e cada um faz em
sua própria casa.”
Em Araguatins, as mulheres expõem os trabalhos na feira e atendem
encomendas. “Ainda financeiramente não estamos como queríamos. Queremos
que melhore cada vez mais”, diz Aline Cunha.
Região
Conforme o Sistema de Informações Territoriais, o Bico do Papagaio é
composto por 25 municípios e população de 196.389 habitantes, dos quais
66.533 vivem na área rural, o que corresponde a 33,88% do total. Possui
7201 agricultores familiares, 5732 famílias assentadas e duas terras
indígenas. E é nessa região, que mulheres transformam recursos naturais
em produtos artesanais e geram renda para sustentar suas famílias.
Bolsas feitas com o coco babaçu no Tocantins
(Foto: Fabio Del Re/Sebrae Tocantins)
Segundo Mila Jaber, a partir de 2006, foi possível abrir novas
possibilidades para os artesãos inseridos na região do Bico do Papagaio e
“com inovação e design o mercado conheceu as habilidades de nossa gente e a riqueza do coco babaçu”, o que vem transformando histórias de vidas.
“Durante esses anos a instituição oportunizou a participação dos
artesãos da região do Bico do Papagaio em feiras nacionais e
internacionais, com isso, foi possível prospectar novos negócios e
parcerias efetivas tanto em âmbito nacional quanto estadual para
fortalecer o artesanato em coco de babaçu”, destaca.
Babaçu
Babaçu transforma vida da população do Bico do
Papagaio (Foto: Reprodução/TV Rondônia)
Nome de várias espécies da família das Palmáceas, especialmente Orbygnia martiana e Orbygnia speciosa,
com longas folhas, penadas, encontradas na região amazônica, no Brasil
central e no Nordeste. Seus cocos oleaginosos fornecem um óleo que se
emprega como lubrificante, combustível ou alimento, em substituição à
manteiga ou ao azeite, e como base para sabonetes. Suas folhas fornecem
palha branca para cobrir tetos de ranchos e casas, e também para fazer
chapéus. (Informações Dicionário Michaelis)
Colar feito de coco babaçu produzido no Tocantins (Foto: Fabio Del Re/Sebrae Tocantins)