Na primeira metade do século XVIII teve início a exploração do ouro
no antigo Norte de Goiás, hoje Estado do Tocantins. Em 1723, o
bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva anunciou a descoberta de ouro na
região.
A partir daí, a corrida em busca das áreas de mineração levaria à
criação de povoados como Natividade (1734), Traíras e São José do
Tocantins (1735), Porto Real (hoje, Porto Nacional, 1738), Arraias e
Cavalcante (1740), Santa Luzia (1746) e Cocal (1749). As minas goianas
produziram, entre 1750 e 1754, 37,31% do ouro brasileiro, número
superado somente por Minas Gerais.
Importante fator de desenvolvimento de uma região até então pouco
habitada, o ouro deixou importantes raízes no Tocantins, especialmente
em Natividade, onde até hoje é desenvolvido um tipo de artesanato
herdado dos portugueses e praticamente abandonado em outras regiões
brasileiras: a confecção de jóias artesanais em filigrana. A arte é
repassada aos jovens da cidade através de oficinas de ourivesaria.
A arte
Mestre Juvenal é um dos mestres mais respeitados em seu ofício. Além
de peças tradicionais, como o peixe articulado, cria com seus alunos
jóias de rara beleza, não apenas pelo design, mas especialmente pelos
detalhes feitos manualmente em fios de ouro ou prata. São corações,
flores de maracujá e capim dourado, entre outros, reproduzidos para
pingentes de colares, pulseiras, brincos e anéis.
A Ourivesaria Mestre Juvenal é um projeto prioritário nas ações da ASCCUNA, onde se alia resgate, preservação, geração de renda e sustentabilidade. O início dos trabalhos começou em 1996 através de uma parceria da entidade com dois artesãos mestres (Bisa e Wal) para o repasse do saber da confecção das tradicionais jóias a novas gerações.
De dezembro/1996 a fevereiro/1997 foi executado o primeiro curso em parceria com a ULBRA – Centro Universitário Luterano de Palmas, com 12 aprendizes. Devido a inadequada estrutura física, apenas dois jovens puderam continuar o aprendizado na oficina.
Em dezembro/1998, através de uma parceria com a Embaixada Britânica no Brasil, a oficina foi ampliada com a aquisição de seis bancadas de ourives, ferramentas e equipamentos para funcionar como oficina-escola.
Entre agosto de 1999 e julho de 2000, uma parceria com o Estado do Tocantins, utilizando recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador/Ministério do Trabalho e Emprego, foi realizada a formação de mão de obra na arte da ourivesaria.
Formar artífices exige tempo mínimo de 3 anos. Assim, em 2002 para dar prosseguimento ao repasse das técnicas tradicionais, o curso volta através de outra parceria com o Estado do Tocantins. No entanto, por não ter tido continuidade, 50% do grupo inicial foi alterado, pela mudança dos jovens da cidade em busca de novas oportunidades.
Em 2003, os artesãos participaram no projeto Artesanato Brasil com Design da Caixa Econômica Federal, com a confecção de 70 peças (broche em ouro), de oficina de design e a doação de ferramentas para uma mesa de ourives.
Em 2004 participou do Monumenta – programa de preservação do patrimônio cultural, parceria da UNESCO com a Fundação Cultural do Tocantins. Foram organizadas linhas de produtos e desenvolvida uma estratégia de marketing, além de criar um site na web. Ainda através do Programa Monumenta foi restaurado em 2009 o imóvel público da antiga Câmara e Prefeitura Municipal para abrigar o Centro de Artesanato e Apoio ao Turista onde a Ourivesaria Mestre Juvenal seria instalada – o que acabou não ocorrendo – estando o prédio sem utilização até a presente data.
Na oficina há algumas publicações específicas sobre a ourivesaria graças a doações de pessoas como a professora pernambucana Juciene Ricarte e as paulistas que trabalham com jóias Thais e Mariana Guarnieri.
Por quase 10 anos a sede funcionou na Praça São Benedito graças a uma parceria com o casal Modestino e Maria Helena Araujo que cedeu o uso do espaço.
O mestre ourives Wal foi contemplado no Edital de Cultura 2011 – Prêmio Mestre Juvenal de apoio a mestres de cultura popular tradicional – promovido pelo Estado do Tocantins, utilizando recursos do Fundo Estadual de Cultura, viabilizou a aquisição de um laminador elétrico e em contrapartida promoveu um curso rápido repassando dicas sobre a confecção das principais joias tradicionais a jovens da cidade.
Hoje a ourivesaria possui 10 (dez) integrantes e se localiza na Rua dos Cruzeiros, nº 365 – Centro Histórico de Natividade; continua sob o comando do mestre ourives Wal (Joaquim Valdeides Carvalho), que já transmitiu através do projeto da Ourivesaria Mestre Juvenal os ensinamentos da arte do saber fazer a 42 jovens nativitanos.
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