Hoje na História: 476 - Rendição marca fim do Império Romano do Ocidente
O dia 4 de setembro de 476 é geralmente aceito como a data da queda do
Império Romano do Ocidente. Nesse dia, o último imperador em Roma,
Flávio Rômulo Augusto, foi derrocado por um comandante militar bárbaro,
Odoacro. Se bem que Augusto estivesse oficialmente no poder, sua
autoridade era apenas uma formalidade, uma vez que os chefes bárbaros
detinham a maior parte do poder. A destituição de Augusto marcou o fim
do poder romano, porém as regiões romanas de outros lugares continuaram
sob o mandato romano depois de 476.
Flávio Rômulo Augusto, chamado ironicamente de "Augústulo" (pequeno
Augusto), nasceu em 461 em Ravena e foi o último imperador romano do
Ocidente (475-476). Curiosamente, carregava o nome do fundador e
primeiro rei de Roma (Rômulo) e do primeiro imperador, Augusto.
Era filho do general Flávio Orestes e assumiu o trono levado por seu
pai. No entanto, o imperador romano do Oriente, Zenon, não o reconhecia
como tal. A pressão dos hérulos – tribo germânica originária do sul da
Escandinávia – reclamando a entrega de terras do centro da península
itálica provocou a queda de Rômulo que contava com apenas 15 anos. Em
seu lugar, o general hérulo Odoacro reclamou o trono da Itália,
confinando Rômulo em Lucullanum, na baía de Nápoles. A data de sua morte
é desconhecida embora existam alguns indícios de que poderia ter vivido
até as décadas de 520 ou 530.
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Ruínas do Fórum Romano, centro político, econômico, religioso e cultural do Império
Este fato levou numerosos historiadores a considerá-lo como o marco do
início da Idade Média. Embora Odoacro tenha reivindicado o trono da
Itália não mostrou interesse em aspirar à dignidade imperial,
reconhecendo o imperador romano do Oriente, sediado em Constantinopla,
como o único imperador. Este episódio serviu como justificativa jurídica
aos imperadores de Bizâncio para se considerarem como os legítimos
soberanos do Império Romano e eventualmente tentar a reconquista dos
territórios ocidentais ocupados pelos reinos bárbaros.
A versão tradicional do fim da Antiguidade foi que a desintegração
política e militar do poder romano acarretou a ruína de sua civilização.
Desde Santo Agostinho até o século XXI predominou a ideia de que as
culturas mostram uma evolução similar à dos seres vivos e que sua
decadência é a fase final.
Edward Gibbon, em sua monumental “História do declínio e queda do
Império Romano”, recebeu da historiografia anterior um legado muito
mediatizado pela religião. Neste panorama de profunda revisão, Gibbon
fez sua a exposição de motivos de Tácito e desenvolveu sua obra partindo
da ideia, à época já adiantada por Montesquieu em sua “Considerações
sobre as Causas da Grandeza dos Romanos e de sua Decadência” (1734), de
que a perda da “virtude republicana” foi a causa fundamental da
decadência do império. Gibbon defende que após a Idade de Ouro dos
Ulpi-Aélios inicia-se a decadência, o começo dos triunfos dos bárbaros e
dos cristãos, o momento em que a irracionalidade ocupa o poder.
O russo Mikhail Rostovtzeff em sua influente obra “Social and Economic
History of the Roman Empire (Oxford, 1926) realizou a primeira
explicação sistemática da crise imperial com uma metodologia concreta
porém muito condicionadas pelas experiências pessoais – a I Guerra
Mundial e a Revolução Bolchevique. Manteve o mesmo esquema de Gibbon,
substituindo, no entanto, as religiosas pelas econômicas. Pelas mãos de
Rostovzeff se retomou Max Weber, estudando-se os fenômenos econômicos
seguidos fundamentalmente pela historiografía marxista.
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