PROFESSORA ANDRÉA

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O golpe militar chileno de 1973

O golpe militar chileno foi um dos acontecimentos políticos mais importantes da história chilena e latino-americana da segunda metade do século XX. O golpe, liderado pelo general de extrema-direita Augusto Pinochet, teve aprovação da burguesia e apoio financeiro dos Estados Unidos, ocorreu em 11 de setembro de 1973 e destitui, violentamente do poder, o presidente socialista Salvador Allende.


Salvador Allende em 1971

Não se pode compreender a dimensão do golpe sem conhecer previamente a situação política, econômica e social do Chile naquele período. Este país, desde 1830 gozava de uma atividade política e eleitoral democrática até o golpe de 1973. Com a chegada do século XX, o Chile consolidou-se como um Estado democrático parlamentar, com uma aliança de classes no poder sob a hegemonia da burguesia industrial e com uma pequena participação das camadas médias e do movimento operário.

É em 1970 que esse cenário começou a ganhar novos traços, com o surgimento e vitória do candidato da Unidade Popular o socialista Salvador Allende, o Chile elegia democraticamente, pela primeira vez na história mundial, um presidente socialista que tinha como proposta o projeto de transição pacífica para o socialismo, que ficou conhecido como via chilena ao socialismo. Este projeto buscava a implementação de um governo socialista através de meios pacíficos, a partir das estruturas democráticas, assegurando a liberdade e respeitando a constituição.

Allende venceu as eleições e chegou à presidência em meio a uma crise econômica; e com seus objetivos anticapitalistas o governo enfrentou esse momento de instabilidade com métodos tradicionais. Durante o primeiro ano de governo, Allende avançou na estatização de setores chave da economia como a mineração de cobre, sistema bancário, setor petroleiro entre outros além do início da reforma agrária.

Porém esse governo de caráter socialista não agradou à burguesia chilena, nem ao governo dos Estados Unidos que estabeleceu, em 1971, um bloqueio econômico informal ao Chile, fazendo com que a crise se intensificasse. Então um período de caos se estabeleceu no país, sem conseguir produzir suficientemente para toda nação, bens de primeira necessidade e sem poder importar parte desses produtos, uma vez que o Chile era historicamente dependente das importações estadunidenses, o país viu crescer o mercado negro de alimentos e a falta desses produtos atingiu mais as classes mais pobres do que a burguesia, que apoiada nos EUA tinha acesso aos produtos através do mercado ilegal.

Foi neste momento que a burguesia, outrora classe dominante do cenário político, usou essa instabilidade a seu favor, que apoiada na força política e econômica tanto nacional quanto internacional inicia uma contra ofensiva ao governo. Em 1972 intensifica-se a mobilização das camadas médias juntamente com alguns oficiais das Forças Armadas chilenas; é também nesse período que ganha força política a organização fascista Patria y Libertad (braço paramilitar de extrema direita do golpe formada pela classe média alta que promovia boicotes e saia às ruas e usava violência para protestar contra Allende). Entre agosto e outubro desse mesmo ano, a oposição tinha criado um plano de desobediência civil que desestabilizou o governo, a sabotagem mais impactante foi a greve de 9 de setembro, financiada pelos EUA, feita pelos proprietários de caminhões que impediu o plantio da safra de 1972/73.

O governo respondeu à crise de forma defensiva, constituiu um gabinete cívico-militar que foi uma tentativa de obter o apoio das Forças Armadas. A maioria da população mais pobre e os trabalhadores continuaram apoiando Allende, e organizavam-se para que a pouca comida pudesse chegar a todos. Operários continuavam seus trabalhos nas fábricas, porém todo esse esforço para ajudar o país e o presidente não conseguiu sustentar-se por muito tempo.

A primeira tentativa de golpe aconteceu em 29 de junho de 1973, mas ainda não era uma ação articulada globalmente com todas as forças políticas, militares e sociais que participavam do plano oposicionista; isso tornou possível ao governo de Allende neutralizar a ação com a ajuda do general Prats, o último oficial legalista das Forças Armadas. A oficialidade golpista tratou de articular um plano de desprestígio a Prats que o levou a renunciar seu cargo de comandante-chefe das Forças Armadas, uma vez que viu-se isolado; Allende promove então o general Augusto Pinochet ao cargo que foi de Prats.

Ao observar a situação política do país, Allende percebeu que seu projeto socialista deixava de ser uma alternativa política para o Chile, então entendeu que havia duas opções para o país, o golpe militar ou a volta da democracia burguesa personificada pela Democracia Cristã – partido político composto pela burguesia industrial e apoiado pelas classes alta e média chilenas. Preferindo sempre a via constitucional Allende projetou convocar um plebiscito em que a população votaria por sua continuidade no governo ou não, caso perdesse, passaria a presidência ao presidente do senado, Eduardo Frei da Democracia Cristã. Allende faria o anuncio público do plebiscito na noite de 11 de setembro; o erro do presidente foi ter consultado Pinochet sobre o discurso. Em posse desta informação Pinochet mobiliza as forças oposicionistas e antecipa o golpe.

Em 11 de setembro de 1973, Santiago – capital política e econômica do Chile – amanheceu aos ruídos de aviões que sobrevoam o centro da capital, o palácio presidencial da Moneda foi cercado por tanques das Forças Armadas. Salvador Allende fez apelos a população contra o golpe, mas horas depois percebeu que pedir resistência ao povo chileno custaria muitas vidas. Fez seu último discurso ao povo na rádio da Central Única dos Trabalhadores – única não tomada pelos militares – onde afirmava que “as grandes alamedas por onde avançará o povo chileno voltarão abrir-se cedo ou tarde” e anunciava que caberia às novas gerações de chilenos desbravar estes caminhos.


Palácio da Moneda sendo bombardeado no dia 11 de setembro de 1973

Minutos depois do discurso o palácio foi bombardeado e invadido pelos soldados golpistas. Allende recebeu de Pinochet um telefonema em que oferecia ao presidente e sua família um avião para que abandonassem o país, Allende disse que só sairia do Moneda morto; e assim aconteceu. A versão divulgada pelo governo militar dizia que Allende matou-se com um tiro na cabeça. Porém, há quem acredite que os soldados atiraram no presidente. Para solucionar esse mistério, em 15 de abril de 2011 a justiça chilena, a pedido de Izabel Allende – filha de Salvador -, decretou a exumação do corpo para descobrir a real causa da morte.

Pinochet ficou no poder por mais de 26 anos (1973-1990) e implementou uma das ditaduras mais sangrentas da América Latina, somando inúmeros mortos, torturados e desaparecidos.

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